quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Despedindo-se desta vivencia...




A despedida longa do guerreiro...


Quão maravilhoso é este o mistério da Vida!

Quão indecifrável, e tão inconcebível é este mistério que a nós foi tirado o desvendar “

Observo meu pai : vendo seu corpo flácido, um pouco rígido demais para os mais simples movimentos, os olhos caídos às vezes fechados só absorvendo os sentidos do escutar e penso o que este momento representa , o que é este aprendizado...

Ouvir agora é o seu maior sentido!

 Às vezes penso vai reclamar de alguma coisa esbravejando, mas não ,a placidez como esta a que estes dias o tem tomado, traduzo como alguém que está na plataforma e quer ver o trem  partir, não sabe se entra ou espera por outro vagão,olha o vazio e solicita o apelo da leitura para animar o pranto.

O agradecimento é agora constante, a tudo e a todos esta é a sua maior forma de expressão.

Agradece a um por que está cuidando , agradece a outro por que o penteia, agradece pela palavra de alento, é um puro e intenso Agradecer a Vida.

O aprendizado da partida está sendo doloroso para todos nós, mas a pedagogia do Amor e da Proteção que ele emprega é a maior lição que podemos receber...

Obrigada meu Pai...
                       [outubro 2009]

Continuando!!!!

 Papai quis contar alguns causos divertidos, peculiares que aconteceram no decorrer de sua vida profissional em Junqueiropolis.

Causos
“Logo que cheguei a cidade fui chamado para fazer um parto.Seria o meu primeiro parto .

 Ao entrar no quarto do paciente me deparei com uma cena inesquecível: 2 mulheres em posição de parto com as pernas encolhidas fazendo força uma na outra  com as próprias  pernas e a criança acabando de nascer entre as duas...para mim recém chegado e iniciando minha vida profissional esta cena foi alem do divertido pois até então conhecia somente 2 crianças vindas de uma mãe mas uma criança de 2 mães nunca tinha  visto...

Só quando a criança acabou de sair e ficar entre as duas é que comecei entender a situação pois uma delas se levantou  dizendo: “Continua colega[eu,médico, ela a comadre parteira]” a criança acabou de nascer...ai  pude conhecer finalmente a verdadeira parturiente

Em outra ocasião fui atender a um chamado no sitio , á cavalo pois não tinha carro e este era o transporte apropriado. Quando lá cheguei a paciente já estava morta, ela era de uma religião que dizia DEUS dá DEUS tira, após alguns anos recebi em meu consultório  um paciente alto e veio logo me perguntando: O Sr.  se lembra de mim,  prontamente respondi que sim . Ele contou que após tanto sofrimento pela perda mulher tinha se mandado para a Bahia aonde encontrou uma mulher 30 anos mais jovem e se casou novamente  e como ele estava numa situação de tristeza tão grande me disse confidencialmente que não tinha feito um bom negócio, afinal esta mulher 30anos mais jovem estava lhe trazendo alguns probleminhas....

Lembro-me que fiz inúmeros partos em carros de motorista de praça , e que me renderam uns 40 afilhados...

Os acidentes de picada de cobra eram corriqueiros , a família trazia o paciente e a própria cobra em cima do caminhão com torniquetes no membro afetado para eu  examinasse o paciente  e a cobra e dizer  se a cobra era cascavel ou jararaca ou????  pois mantinha um estoque de soro fornecido pelo I. Butantã , de grande valia nestas ocasiões

Pelos idos de 1953-54 foi criada uma Casa de Saúde embora precária em Dracena, cidade vizinha á 10kms, e ai levava os casos mais complicados para serem atendidos...

Olha a equipe: eu[José], Gumercindo, Pedro Bocca, Beretta, um terror  fazíamos de parto a unha encravada , cirurgias para a época de alta complexidade tais como: vesícula, cirurgias gástricas, ortopédicas, atendíamos acidentes de todos os tipos , até socorrer e fazer alguns atendimentos veterinários . Agora quando  o caso era pretíssimo orávamos muito e enviávamos o paciente para PRUDENTE, ADAMANTINA senão .....uma verdadeira Odisséia

Nesta época não tinham laboratório nem RX , que somente após 1955-56  Juliano trouxe a inovação do RX para a cidade.

Lembro que para cirurgia a anestesia era feita com éter na mascara de Obredane, chic né, um pé aqui na terra e o outro no céu e o Médico dos Médicos regendo tudo...haja oração....

Com isso este quarteto foi se fortalecendo e amizade se fincou profundamente, e as famílias também muito unidas e presentes se tornaram uma irmandade , e todos foram compadres uns dos outros.

Os farmacêuticos da época  eram apenas aprendizes do oficio mas exerciam a profissão de atendimento médico com bastante dedicação e nenhuma responsabilidade. Muitas vezes se colocavam em situações que deixavam o Dr. Jose em maus lençóis, pois faziam alguns procedimentos inadequados e medicavam também erroneamente...

Quero me lembrar de coisas boas e engraçadas sendo assim conto pra vocês este fato muito peculiar e gozadissmo que presenciei...

Um dos farmacêuticos da cidade de Junqueirópolis era especialista em exames de fezes á olho nu, e sem máscara para sentir o verdadeiro odor...

Um belo dia  um paciente levou o exame da família toda em uma lata de goiabada 4 em 1, em cada canto teve o cuidado de colocar as fezes de sua família, 1 para a mulher e os outros 3 cantos para os filhos . O diagnóstico veio rapidamente e com ele a medicação igualitária uniforme para todos...  e todos tiveram uma diarréia em conjunto.

Outro causo surreal , escatológico: Fui visitar um paciente, não sei se surpreendi a família com o adiantado da hora, pois uma das pessoas fazia suas necessidades em um urinol,penico para quem não conhece , a família ficou tão desconcertada sem saber o que fazer , quando o dono da casa após ficar com o penico cheio por algum tempo sem saber aonde colocar olhou para a mesa da sala e colocou o recipiente no centro da mesma.

E muito divertido também as situações em que minha cara sogra Anita disputava comigo o tratamento das pessoas.Como meu consultório ficava ao lado de casa , dnª Anita que sempre acreditou muito em Deus e tinha uma fé inabalável, não importasse o credo que estava praticando,disputava comigo a eficácia do tratamento.Imagine que eu examinava os doentes e quando eles saiam da consulta e passavam pela frente de casa ela dava umas garrafas de água benta pelo Zarur, programa que ela escutava no radio , e entregava aos mesmos dizendo “Isto é que vai te curar, beba”...

Embora inúmeras vezes os momentos tivessem sido de muita preocupação, desgaste, stress onde nem tudo foram flores, a fé em Deus e na vida me impulsionaram sempre para fazer o melhor para os mais necessitados.Aprendi que trabalhar para o próximo em beneficio de uma saúde melhor, me fizeram viver o Amor que Deus tanto nos fala , e me privilegiaram pois me tornei um médico com um olhar clinico e  diagnostico afiado , que fizeram a diferença quando vim para a capital. Posso dizer que já realiza os princípios do SUS desde 1951....

Como hoje só quero falar das alegrias , posso dizer que ficaria muito tempo aqui para discorrer quantos bons momentos vivi.Por conta disso fiquei conhecido na cidade como pai dos pobres...ganhei muita galinha, porco , saco de milho , arroz , peru como paga do tratamento...

A cidade era muito carente de recursos e fui o único médico por uns 5 longos anos...

Mesmo sendo tão pequena a cidade esta tinha uma sede da prefeitura, câmara de vereadores, cinema, uma igreja, um banco o primeiro da região, Banco Industrial Paulista, Coletoria Estadual, um grupo escolar, ginásio com os professores do grupo , máquinas de beneficiar arroz , café, um cartório, um pequeno comercio varejista.

A nosso lazer era assistir a alguns raros filmes quando inúmera vezes fui chamado para atender a algum chamado, sem a menor cerimônia o paciente ou familiar gritava na primeira fileira:”dr. José eu sei que o Sr, ta ai vem atender a minha muie, ou meu fio”....
                                           
                                                                                   [ HAOC-SP  10/09/2009 ]



Cansou e parou por aqui mas me comprometi de dar continuidade á essas historias....

Memorias de um homem Bom...

Impressões de José----

Junqueirópolis

Foi o inicio da minha vida profissional e familiar em que tinha muitas atividades, participava muito da comunidade em todos os sentidos ...Fui para ficar 2 anos , mas quando percebi 13 anos foi o tempo em que lá fiquei ...

Apesar de trabalhar diuturnamente esses 13 anos,forma muito bons talvez os melhores da minha vida. Sempre atento aos chamados dos pacientes muitas vezes graciosamente, fiz belíssimas e fortes amizades a maior deles ,Gumercindo, médico como eu residia em Dracena, e partilhava dos mesmos ideais : humanos, familiares e profissionais.

Ao mesmo tempo que a cidade crescia aumentava a minha família...

Minha mulher, excelente companheira de todas as horas, sem nunca reclamar, sempre sorrindo amenizou os tempos difíceis da jornada....

Nossos amigos foram muito importantes na nossa estada em Junqueirópolis, fizeram parte da nossa historia.Lembro me com saudades mas alegria de Álvaro de Oliveira Junqueira , fundador da cidade ,Horácio Cajado , Zé Amatruda , destaco Fuad Salle e família,Shiguero Kishida, Gerson Nogueirol, João Pacini, João Polon, Helio Russo ,  e tantos outros que partilharam da minha vida e da vida de minha família.

De repente a vida me levou a decidir pela mudança de cidade ... Meus filhos estavam crescendo e a necessidade de uma melhor formação me obrigou naquele instante a tomar tão difícil decisão:acompanhar o crescimento dos meus filhos ou vê-los partir um a um, ano após ano...

A minha alegria foi que consegui inaugurar a Sta. Casa local  antes de me mudar, deixando para a cidade uma oportunidade de melhores cuidados médicos ficando para trás tempos de uma realidade triste,pouco recurso de suporte hospitalar, falta de pessoal especializado, muita fé e paciência  para que o tratamento desse certo.
                                                                   [ HAOC-SP-09/09/2009]


Hoje papai quis parar por aqui .... se Deus quiser amanhã voltamos com outras recordações, ele ficou muito feliz falando da vida que viveu em Junqueirópolis...

Aroma que vem do Figo....

O doce do vovô...

Ai, que saudades do Natal da minha família... tantas lembranças boas e quanta comida sempre elaborada em equipe. Hoje diríamos uma verdadeira equipe multidisciplinar.

Sempre depois do Natal,meu sogro(Semex)fazia o doce de figo seco.

Num primeiro momento diríamos modernamente que era para reciclagem do que não foi utilizado :figo seco,nozes, amêndoas, avelãs,um belo conjunto de sementes especiais para serem comidas em uma época tão especial.

O doce de figo seco com seu aroma doce- suave, mistura de especiarias:

erva-doce ,mais as nozes,amêndoas,avelãs apurando no fogo,me traz a visão do Semex a beira do fogão, mexendo de vez em quando para não pegar no fundo da panela.

O aroma inunda a casa e vai se despedindo das festas natalinas mansamente trazendo a lembrança do Natal partilhado em família incorporado neste doce tão delicioso.

Mas depois da sua partida ,esse momento tão familiar ficou esquecido embora fosse relembrado a cada Natal...

Então a vontade de que o elo entre o prazer do alimento e o aroma que nossos sentimentos experimentaram fosse restabelecido nos deu animo para tentarmos repetir o fato.

Uma voz nos diz: Arrisque! E o Lu ,primogênito de Semex arriscou!!!

Que maravilha sentir o aroma novamente que nos remete á infância e tantas coisas boas...

Posso dizer ,ficou quase igual , mas o importante é tê-lo feito pois a perseverança levará ao ponto certo....

A receita abaixo é a original do Líbano....mas se você não tiver o almíscar,gergelim torrado e quiser substituir por amêndoas,não se esquecendo da erva-doce (uma pitada),uma dose de saudades, alegria, fraternidade e solidariedade posso lhe garantir que o espírito de Natal permanecerá em seu ser pelo ano todo.

DOCE DE FIGO SECO


INGREDIENTES


1 KG de Figos Secos

1 xícara de açúcar

2 xícaras de água

1 colher de sopa de suco de limão

1 xícara de nozes

1 xícara de gergelim previamente torrado

1 xícara de snoobar

1 colher de sopa de almíscar socado

2 colheres de sopa de água de laranjeira


Preparo


Cortar o figo pela metade ou em quatro se não forem muito grandes. Lavá-los bem.

Em uma panela (ou tacho de cobre, se possível) dissolver o açúcar na água. Levar ao fogo brando até a fervura.

Retirar a espuma que se forma na fervura, juntar o suco de limão e os figos. Deixar por,aproximadamente,30 minutos ou até que o doce fique com uma consistência firme, mexendo esporadicamente para não grudar no fundo.

Retirar do fogo e secionar as nozes, o snoobar,o gergelim o almíscar, e a áua de flor de laranjeira.

Pode ser servido acompanhado de sorvete.



OBS:- Fui então remexendo em velhos livros da comida árabe e para minha surpresa me deparei com a receita original e assim pude comparar que mesmo sem a flor de laranjeira ,sem o almíscar proposto ,a substituição do gergelim torrado pela amêndoa as minhas lembranças que estavam um pouco esquecidas se restabeleceram.

                                                                                    [ Dezembro-2009] 









  

Vida do papai para os amigos em sua missa de 7º dia....

José Aly já está na casa do Pai, foi embora dia 13/10 aos 83 anos e 11meses completaria 84anos no final do mês dia 31.

Filho de David Aly e Cacilda Oliveira e Souza, e irmão de Omar e Oswaldo Aly.

Casado com Ilvaita Maria

Pai de seis filhos: Angela, Cacilda, Jose, Fernando, David e Ricardo,

Avô de 18 netos e cinco bisnetos

Em 1947 foi ao encontro de seu maior sonho: SER Médico. Graduou-se na Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro. Nesta época conheceu seu Amor, Ilvaita, com quem veio a se casar em 1951 e constituiu essa grande família.

A conselho de seu pai foi iniciar sua vida profissional em Junqueiropolis, uma cidadela recém inaugurada, na Alta Paulista - estado de São Paulo. Foi para ficar dois anos, mas ficou por 13 anos nos quais trabalhava diuturnamente.

Sua estada naquela cidade foi fundamental, pois fez um trabalho junto á prefeitura para que o saneamento básico fosse feito, iniciando assim o 1º projeto para melhoria das condições de higiene que eram precárias até então. Lutou pela construção da Sta. Casa e conseguiu inaugura la em março de 1964. Deixou no coração do povo da terra uma gratidão imensa. Era chamado de Pai dos Pobres, lutava para que todos tivessem direito a um atendimento digno e estava sempre a postos para atender qualquer pessoa em qualquer horário.

Sua família crescia, então sentiu que precisava se mudar para um centro maior optou por São Paulo, para poder acompanhar o crescimento e a formação de seus filhos.

Era mestre em Saúde Publica especialista em Administração Hospitalar, e Infectologia Exerceu também vida acadêmica pela Faculdade Sta. Casa, Taubaté, e Londrina

Trabalhou no Hospital Emilio Ribas, e junto com seus caros colegas viveu as horas tristes da epidemia da meningite nos idos de1971 a 1975. Trabalhou no Hospital dos Servidores Públicos Estaduais por mais de 30anos, desde sua inauguração, atuando como Infectologista e também na área administrativa chegando ao cargo de diretor geral do Hospital.

Exerceu suas funções como funcionário publico por 46anos.

Foi médico da Varig por 20 anos.

E como médico de seus clientes particulares e amigos e dos familiares por quase toda a sua existência.

Falar da vida do José Aly, meu pai, é uma alegria, pois foi um homem pleno exerceu com maior integridade e dedicação o exercício da Medicina, foi um Pai amoroso, severo, totalmente dedicado ás questões familiares.

Amado pelos seus amigos, irmãos, cunhadas, sobrinhos, filhos, netos, bisnetos, noras, genro e por sua esposa e companheira por 63 anos.

Tinha hábitos simples, gostava de uma boa musica dirigir, ouvir a Radio Cultura enquanto quando dirigia, cinema, viajar de avião para lugares desconhecidos, sem reserva previa de hotéis e percorrer os lugares de carro para conhece los melhor.

Gostava também de comer batata frita, adorava pão, kibe cru, pizza de calabresa, pimenta...

De se vestir de branco quando atuava como médico, de terno para as ocasiões formais e á vontade quando estava em casa.

Amava a vida era grato por tudo e a todos nós familiares e amigos.

Tinha fé inabalável, foi trabalhando sua espiritualidade desde tempos de mocidade, e como católico praticante participou dos Cursilhos, Encontros de Casais com Cristo,

Equipe de N. Sra. e atuou nesta paróquia na Pastoral dos Noivos por quase 35anos.

Vamos sentir saudades de sua gargalhada franca, de sua sabedoria e até de suas ironias ou ranhetices. O que nos consola é pensarmos que ele está na graça de Deus e a lição que ele nos deixou: sermos antes de tudo leais aos amigos, á família e aos ideais, comprometidos com as causas que abraçamos e sermos gratos a tudo, a todos e a Vida.

Deixou-nos como suporte a máxima de Sta. Tereza d”Ávila: “Só Deus basta!”

Agradecemos o carinho de todos...

Mudança de minha mãe...

Olas....

Iniciamos o processo da mudança da mama....realmente é um processo....
Estou organizando por partes...até agora só consegui ver  o sofa da salinha da lareira...sabe que ela era muito aconchegante não fora a montanha de papeis e a quantidade de objetos  kitchs que guardei dentro de uma caixa para vermos junto com a mama o que ela quer fazer: doar , jogar, brecho????
Hoje continuando o movimento me deparei com os escritos muito gostosos em forma de poesia e as vezes num diário muito bem elaborado....
Destes escritos faremos um livro de memorias....
Achei um bilhete da vó Anita para o Fernando, um bilhete do David quando fomos para os USA e ele ficou tomando conta da casa, carta do Zé de 1990 quando morou nos USA,mil cartilhas , e recortes  engraçados de jornais que a mama acha interessanta, tais como: O homem de 72 anos morre depois de tomar VIAGRA, Denuncias do Favre, mil receitas , dizeres do cotidiano, cartões amorosos dos netos, documentos do Ricardo,agendas desde 1998,revistas do bairro, APCD, SINDICATO que já mandei embora,

Enfim uma reliquia --

Convido a todos que participem deste movimento é um resgate de nossas vidas....

Olha que só foi um sofá....
                             
                         [janeiro de 2011]